A eleição das redes: ambiente hostil decidirá pleito em 2018

25 de agosto de 2017

por Fernando Teixeirense e Marcelo Tokarski*

As primeiras eleições gerais sem financiamento privado de campanha devem movimentar o mundo digital. No Brasil, o assunto eleição versus atuação nas redes sociais ainda é pouco explorado, e existem raros estudos com números sobre o engajamento dos políticos nas redes. Em 30 de julho, O GLOBO jogou luz sobre uma parte específica deste universo de informações ao destacar que cotados para disputar o pleito presidencial em 2018 registraram queda nas interações do Facebook nos últimos seis meses.

As redes sociais são um instrumento fundamental para quem precisa alcançar mais pessoas. Mas elas serão ainda mais decisivas em 2018, quando os candidatos terão menos recursos financeiros. No Brasil, só no Facebook estão mais de cem milhões de pessoas. Um público de 16 a 64 anos, que consulta a rede várias vezes ao dia em busca de informações, opiniões e interação.

O planejamento é fundamental. Muitas vezes, na ânsia de iniciar um trabalho de divulgação, um político ingressa na rede sem definir o público-alvo, as ferramentas e a linguagem que serão utilizadas. O resultado é pouco engajamento, até para aqueles com mais seguidores.

Nas redes, onde o algoritmo decide o que será visto ou não pelos seguidores, ter um séquito de simpatizantes não garante engajamento.

Para entender esse movimento e mensurar a influência dos parlamentares nas redes, desenvolvemos um índice de influência para que eles possam amadurecer o diálogo com os eleitores. O índice monitora a presença, o alcance e o engajamento dos políticos, levando em consideração o número de seguidores, o volume de posts, o alcance e as interações no Facebook e Twitter. O resultado final é o índice de influência de cada parlamentar.

O primeiro estudo avaliou as publicações de 559 deputados e senadores — nem todos presentes nas redes. Foram feitos 85.203 posts ao longo do período legislativo, entre 2 de fevereiro e 17 de julho de 2017. Um dado que chama a atenção é a diferença de influência entre partidos. O PT aparece na frente como a legenda mais atuante, seguido pelo PSC. PMDB e PSDB aparecem no final da lista, em décimo e 15º, respectivamente. Prova que quantidade nas redes não significa eficiência. A polarização, tão percebida no dia a dia, mostra-se muito forte. Na Câmara, dos dez mais influentes, seis são de esquerda e quatro de direita. São parlamentares mais estridentes, que não costumam ter espaço na mídia e usam as redes para polemizar.

O ambiente de redes é hostil. Há milhões de pessoas livres para falar o que bem entenderem. Não é um ambiente controlado. Mas, hoje, tornou-se impossível ficar fora dele. Boa parte dos políticos já entendeu este contexto. Mas, no momento em que esses canais tornam-se fundamentais para as eleições de 2018, quem quiser sair na frente ou recuperar o tempo perdido precisa correr e se planejar. Ele não é o futuro. É o presente.

*Fernando Teixeirense é diretor da FSB Comunicação e Marcelo Tokarski é diretor do Instituto FSB Pesquisa
Este artigo foi publicado em O Globo, no dia 25/08/2017.